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Jesus e os Samaritanos

Era por volta do meio-dia quando Jesus Se aproxima do Poço de Jacó. Jesus estava cansado e a sede era intensa, pois a caminhada de 25 km da Judeia até a Galiléia exigiu muito esforço do Mestre e dos Seus discípulos.

Por consequência de uma confusão que envolveu o Seu nome, Jesus precisou sair às pressas da Judeia. Não que Ele estivesse com medo, mas por uma questão de prudência a fim de evitar conflito com os fariseus e com os discípulos de João que estavam enciumados por verem Jesus envolto de uma multidão.

Concomitante aos acontecimentos, por ser véspera de Páscoa e também por João Batista estar preso, Jesus e Seus discípulos, com a intenção de evitar tumultos e violência partem bem de madrugada em direção a Galileia. Ele escolhe o caminho mais curto, porém, mais suscetível a problemas, uma vez que atravessariam a terra dos samaritanos.

Havia uma rixa entre judeus e samaritanos. Os povos se odiavam. Eram como os Tutsis e Hutus que numa primeira oportunidade de guerra civil se matariam. Os judeus puro-sangue que residiam na Judeia viam o povo da Galileia como pecadores, por serem mestiços.

Nesse ínterim de confusão, à semelhança de uma sertaneja que sai pela caatinga em direção a cisterna em busca de água para a sobrevivência, a mulher samaritana debaixo de um sol escaldante vai ao poço buscar água.

A diferença é que a sertaneja não vai às escondidas. Ela não tem a má fama da samaritana. Apesar de ambas buscarem o mesmo bem para a sobrevivência, a samaritana vai num horário impopular com o objetivo de não ser notada.

Contudo, desde a Judeia, Jesus já havia notado a angústia daquela mulher. Jesus Se aproxima dela ao meio-dia porque já sabia o percurso e horário que ela buscava água.

Em meio a essa cena, fico a imaginar Jesus partindo de Vitória no Espírito Santo em direção a Bahia. Após longo trajeto, depois de passar por cidades como: Serra, Ibiraçu, João Neiva, Linhares e São Mateus, Ele decide sair da linha reta e seguir o trajeto do litoral, na estrada de Conceição da Barra em direção a antiga Vida de Itaúnas.

À semelhança de Sicar na Galileia, Itaúnas tem um poço coletivo em que abastece os cerca de 400 moradores. Eles chamam aquele “olho” geológico que jorra água pura e cristalina, de cacimba.

Jesus Se aproxima daquele pequeno vilarejo capixaba debaixo de um sol escaldante e segue em direção à cacimba em busca de água fresca. Enquanto isso, os discípulos vão até a Vila.

Ao chegar no poço, Jesus encontra uma nativa à semelhança da samaritana cheia de dilemas e necessitada da água da vida.

Enquanto Jesus conversa com a mulher, os discípulos transitam pelas ruas do vilarejo e notam um cortejo e cantoria. É a festa de São Sebastião, padroeiro do lugar. Os discípulos se escandalizam, pois as pessoas carregam num Andor, uma imagem de barro. Eles assistem silentes sem esboçar nenhuma reação, afinal, estavam em terras estrangeiras, onde os nativos têm os seus costumes e tradições.

Eles seguem até a beira do rio onde localizam um comércio. É a venda do Sr. Theófilo Cabral da Silva. Um homem bem amistoso que os atende de maneira educada. Eles compram algo para comer e vão ao encontro de Jesus na cacimba.

Para surpresa deles, Jesus estava num bate-papo a sós com uma mulher. Eles não falam nada, mas os seus pensamentos estão repletos de julgamentos. Neste momento, eles se recordam de algo ocorrido há dois mil anos, quando Jesus, na cidade de Sicar, conversou com uma samaritana.

Ao chegarem à cacimba, eles ainda ouvem um pouco da interlocução de Jesus com a mulher nativa da Vila ao dizer que Ele é a “água da vida e quem beber dessa água jamais terá sede”.

A nativa, repleta de alegria e com o coração liberto de sua angústia, sai em direção ao vilarejo e convida pessoas para irem até Jesus para a solução de seus problemas. Aquela mulher havia sido abandonada pelo esposo e lutava para sustentar os 5 filhos.

Ela trabalhava afinco na beira do rio em que sobre a tarimba lavava roupas para a sobrevivência dela e das crianças.

Os dias eram de labuta para aquela mulher! Suor e lágrimas rolavam daquele rosto castigado pelo tempo e pelo sofrimento.

Em suas memórias infantis, ela se lembrava da dura vida na lavoura com os pais por se recordar da desobediência. Aquela vida difícil, em parte tinha que ver com o seu ato subversivo quando aos 17 anos abandonou a casa de seus pais com um forasteiro que chegou do Rio de Janeiro para a festa na Vila.

Esta samaritana capixaba experimentou a dura realidade da cidade grande. Com pouco estudo e obrigada a cumprir os caprichos de um marido alcoólatra, violento, viciado em apostas e envolvido com prostituição, ela se viu aprisionada e quase sem a esperança de retornar para a sua terra. E, como retornar se tudo era tão distante?

Naqueles tempos, as coisas eram muito difíceis para aquela mulher. Não havia parentes naquela cidade grande e telefone era artigo de luxo e para poucos.

No entanto, num dia qualquer, ela se encontrou com Sebastião Cabral da Silva, filho do Sr. Theófilo que estudava medicina no Rio de Janeiro. Os dois recordaram dos temos infantis na pequena Itaúnas quando estudaram juntos. Porém, no momento da conversa, Sebastião percebeu o semblante triste de sua amiga e perguntou o que estava acontecendo. Ela compartilhou a sua situação e desejo de voltar para a terra de seus pais.

Sebastião, tão logo providencia os meios para a viagem e na primeira oportunidade, aquela capixaba, imbuída de coragem juntamente com os filhos, parte de volta para a sua terra.

Infelizmente, quando ela retorna para a Vila, os seus pais já haviam falecido e a propriedade no estão não pertencia mais à família. Em total desolação e sem saber o que fazer, ela se reúne com os filhos debaixo de um pé de uma castanheira.

Naquele instante, uma moradora antiga se aproxima dela e começa a conversar. Ao observar a sua fisionomia e herança familiar, ela a conduz para um pequeno casebre. Era um local que o seu pai havia comprado antes de morrer pensando na filha que nunca mais viu, mas que poderia ser útil em algum momento.

Aquela nativa rebelde se desmancha em prantos. Era uma mistura de alegria, gratidão e remorso. A desobediência aos pais lhe custou muito sofrimento. Pensar na atitude de seu pai em deixar algo para ela, foi algo que tocou profundamente o seu coração. Os filhos, ao observarem o pranto da mãe, também choram. O filho mais velho tinha 10 anos de idade e os demais com a diferença de dois anos para cada um.

Apesar de todo sofrimento, e em honra à memória de seu pai ela decidiu sobreviver de maneira honesta como sempre aprendeu. Mesmo sem muita opção de trabalho no lugar, ela começa a lavar roupas para fora. Era uma vida de sofrimento e de muita culpa pelo que fez. A chegada de Jesus em sua vida naquele dia quente de verão saciou as angústias de sua alma.

Após alcançar o coração daquela mulher, Jesus e Seus discípulos partem por densos matagais com o intuito de chegar ao sertão baiano. A viagem muito cansativa, também foi recompensadora, pois ao chegarem na Bahia, Jesus e os Seus discípulos descobrem algo fantástico:

Um homem chamado Plácido da Rocha Pita que era combatente do cangaço, trocou a farda policial pela armadura do evangelho. Como pioneiro no sertão, abriu caminhos e valados por meio da caatinga com o intuito de levar a Palavra de Deus para as pessoas.

O trabalho de Rocha Pita é digno de ser louvado. Ele passava meses longe de casa. A sua extensão territorial para o exercício da missão de Deus era de 1.200 km sob o lombo de dois animais, os quais ele os nomeou de Superbom e Sputnik.

Prezado leitor e distinta leitora! Esse pequeno enredo que poderá um dia, quem sabe, virar um Romance é para despertar em você que o trajeto de Jesus com os discípulos ultrapassou as fronteiras da Judeia e da Samaria. Esse trajeto para salvar pessoas continua e deve alcançar cada canto do planeta.

Há muitos samaritanos e sertanejos espalhados pelo mundo em seus muitos dilemas. Também há diversos Nicodemos em suas mansões suando angústias de uma vida vazia e ansiosos por encontrar a fonte da água viva.

Façamos o trabalho do Mestre! Há uma infinidade de pessoas com o vazio na alma muito mais profundo do que os poços e cacimbas que os abastecem.

Por Célio Barcellos

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