Por Célio Barcellos
Êxodo 2 #rpsp
Era 30 de novembro de 1496, quando aconteceu o casamento entre o rei de Portugal e a princesa da Espanha com o intuito de livrar não só a Espanha, mas toda a Península Ibérica, da presença dos judeus.
Quatro dias após o casamento “os judeus receberam a ordem de expulsão ou batismo, em um prazo marcado de dez meses”.
Pensando melhor no prejuízo econômico que o país teria, Dom Manuel optou em batizar em vez de exilar os judeus. O plano, um tanto diabólico foi o seguinte: “raptar e batizar todas as crianças, entre 4 e 14 anos, e separá-las dos pais, a não ser que esses também aceitassem o batismo”.

A descrição da cena é chocante, pois no primeiro dia de Páscoa, clérigos arrebanharam uma multidão de crianças com o intuito de segregação e batismo forçado.
Dessa forma, para que os pais tivessem os filhos novamente, só se convertendo forçadamente. Daí vem o nome “cristão novo”.
Como resultado desse ato tão desumano, após a agressão feita às crianças, os “homens foram arrastados às fontes batismais pelas barbas e as mulheres pelos cabelos. Mães desesperadas se suicidavam; pais agarravam filhos pequenos e pulavam para dentro dos poços. Valia tudo para não ser maculado pela água benta. O horror do inferno português não tinha tamanho (Hans Borger, “Uma História do Povo Judeu: de Canaã à Espanha, volume 1, p. 452).

Em suma, o episódio narrado acima é uma mancha na história do catolicismo medieval e nos remete à continuação da história descrita na reflexão de ontem, quando falamos de censura, despotismo, escravidão e morte, tanto na ação do Faraó quanto na ação de Mao Tsé-Tung (leia aqui).
Por conseguinte, em regimes totalitários, não há espaço para as liberdades. Sejam elas, políticas, econômicas, de expressão, de religião ou do pensamento.
Há um problema na atualidade entre as democracias. Os poderes políticos e judiciários não se entendem, a sociedade que num sentido pleno de democracia deveria manter o autogoverno, também não compreende a sua parte e dividida em manadas se autodestrói em defesa de suas religiões ideológicas.
De acordo com Michael Sandel, “na perspectiva política da geração dos fundadores” dos Estados Unidos da América, a “virtude pública é a única base das repúblicas”. Ao citar John Adams, que às vésperas da independência disse:
“É preciso que haja uma paixão pelo bem público, o interesse público, a honra, o poder e a glória, estabelecida nas mentes do povo, caso contrário não é possível haver um governo republicano nem nenhuma liberdade real”.

Nesse sentido, Sandel conclui o seu pensamento ao citar Benjamim Franklin, que foi mais sucinto ao dizer: “Apenas um povo virtuoso tem capacidade de viver a liberdade. À medida que as nações se tornam corruptas e perversas, maior é a necessidade de haver senhores” (Michael J. Sandel, O Descobrimento da Democracia: uma nova abordagem para tempos periculosos. Editora Civilização Brasileira. 1 ed., 2023, Formato: epud Kindle, p. 16).
Essa pequena digressão no texto tem a finalidade de informar que é muito melhor viver num ambiente de escolha em que o poder está nas não do povo, do que viver sob um regime ditatorial com a conversa de proteção absoluta.
Infelizmente, desde o Jardim do Éden, o ser humano não soube lidar com a liberdade. A frase de Benjamim Franklin a de que apenas “um povo virtuoso tem capacidade de viver a liberdade”, faz todo sentido, pois Adão e Eva enquanto virtuosos, desfrutaram os melhores momentos de suas vidas num lugar extraordinário.
Contudo, a partir do momento em que quebram a virtude, tudo desmorona e desde então, a humanidade passa a conhecer os efeitos daninhos dos seus erros.

Logo, quando um Faraó, um governo totalitário como o de Mao, ou até mesmo nações estabelecidas que se utilizam do nome de Deus, de ideologias que defendem censura a fim de destruir o contraditório em nome de uma falsa democracia que oprime e mata pessoas, mostra que o pecado reinou, onde jamais deveria – na mente e coração humanos.
Como resultado, a falta de virtude nas pessoas faz gerar monstros e provoca o caos. Neste caso, tanto o humanismo, quanto a religião desprovida da graça e da virtude do Reino são capazes de atrocidades como o inferno português descrito no início deste texto, bem como os infernos protagonizados por Faraó, por Mao Tsé-Tung e por tantos outros déspotas aos longo da história humana.
Portanto, quando Moisés é tirado das águas, adotado pela filha de Faraó e criado como um príncipe no palácio real (Êxodo 2:1-10), é a maneira temporal de Deus agir para dar solução a algo que do ponto de vista humano é insolucionável, pois, quem é que pode contra a força do Estado ou da religião sem Deus?

Assim, no contexto da vida de Moisés, em algum momento da história Deus intervém de maneira sobrenatural para ofertar a liberdade perdida.
Em nosso contexto de mundo atual, pelo andar da carruagem, somente a intervenção divina para o estabelecimento da normalidade.
Normalidade, não mais num sentido político social humano, mas na normalidade que o Reino de Deus promete para todo aquele que aceitar a virtude do Cristo. Essa é a única solução para a decadência humana. O contrário disso, é campanha eleitoral para a continuação da maldade.
Que Deus te abençoe ricamente!