Por Célio Barcellos
Enquanto os povos do Oriente se despedem do sol, com olhares perdidos no horizonte e o coração envolto em sensações crepusculares, nós, no Ocidente, somos agraciados pela aurora.
Em nosso clima tropical, onde o frio e o calor se misturam, o céu se rasga em faixas douradas, anunciando um novo dia. As nuvens, sejam elas cirrus, stratocumulus ou qualquer outra, não conseguem conter a força da luz que desponta para nos abençoar e nos reconectar com a vida.

É como se, em instantes, fôssemos convidados a refletir, a entrar em nossas próprias “discussões tusculanas”, como fazia Cícero, mergulhando em perguntas existenciais que nem sempre sabemos responder.
Muitas vezes, nosso orgulho nos impede de buscar essas respostas no Deus Eterno, Criador do sol e de tudo o que existe no universo.
Ao invés disso, preferimos nos perder nas epopeias da imaginação, sem com isso, claro, desmerecer grandes poetas como Homero ou Hesíodo, com suas Ilíadas e Teogonias.
O problema é que, ao ignorarmos os poemas diários que Deus declama para nós, escolhemos um caminho de desdém pela verdade.
Neste mundo pó-moderno, em nome de um cientificismo que muitas vezes se mostra frágil, tendemos a rejeitar o que é elevado, considerando-o retrógrado ou sem sentido.

Entretanto, quando a primeira crise nos abala — seja uma doença que atinge alguém que amamos, uma dificuldade financeira que parece intransponível, um filho preso às drogas ou a morte que sela o fim de sonhos e projetos —, tudo se torna turvo. Do mais humilde ao mais rico, todos somos vulneráveis diante da fragilidade da vida.
Como já dizia Augusto dos Anjos, em seu poema Psicologia de um Vencido:
“Profundamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.”

O mundo, por vezes, pode parecer um lugar hostil. Se tão somente nos limitarmos a olhar apenas para o que é passageiro, corremos o risco de nos tornarmos como Dom Quixote, vivendo em um universo paralelo criado pela nossa própria confusão. E, pior, arrastamos os “Sancho Panças” ao nosso redor para uma ilusão sem fim.
Por isso, nesta semana que se inicia te convido a pausar, nem que seja por um instante durante a correria do seu dia. Observe o nascer ou o pôr do sol, contemple a natureza ao seu redor e reflita sobre o tempo e a vida. Mas não se prenda apenas às dúvidas existenciais que trazem dor.
Busque enxergar nos presentes diários — seja na luz do sol, nas maravilhas da terra, no sorriso de uma criança, no bom dia de alguém, numa exortação para você, ou nas palavras do evangelho — as mensagens que o Deus Eterno envia para te despertar (Salmo 19).
Seja através do espetáculo solitário do sol ou das muitas formas com que a criação se manifesta, o propósito maior é te aproximar d’Ele, te salvar e te guiar.
Um bom dia, e que o Senhor te abençoe!