Por Célio Barcellos
Êxodo 4 #rpsp
Desde o dia em que Moisés fora inserido num cesto e sob a escolta de sua irmã Miriã, singra as água do Nilo em direção ao local de banho da filha de Faraó (Êxodo 2:1-10), aquela circunstância deve ser entendida como um ato do Deus eterno que não Se isola em Sua atemporalidade, mas que Se insere no tempo, a fim de Se comunicar e interferir em prol das pessoas.
Este assunto “tempo” é um tanto complexo, pois na tradição cristã, desde a influência de Santo Agostinho (354-430 d.C), que sob o parâmetro do pensamento platônico insere Deus numa atemporalidade incomunicável com o mundo físico, fez gerar transições para outros modelos de entendimento.
Como resultado dessa compreensão, o teólogo Fernando Canale, que diverge do pensamento agostiniano, apresenta dois pontos acerca do modelo clássico.

De acordo com esse modelo, é informado (1) “que no momento da revelação Deus transmite verdades atemporais, inacessíveis a nós pelas capacidades naturais da mente; (2) esta visão apresenta Deus não somente como autor mas também como escritor”.
Segundo Canale, o “modelo clássico afeta a interpretação da Bíblia pelo fato de separar a verdade da história” (Canale, O Princípio Cognitivo da Teologia Cristã: um estudo hermenêutico sobre Revelação e Inspiração. UNASPRESS, 2011, p. 119-123)
Diante do exposto, as duas imagens abaixo, mostram que no entendimento clássico, a alma é um agente independente do corpo, que sob a influência do Espírito Santo faz o profeta escrever sem a participação humana. Esse é o modelo que permanece até os dias atuais quando se defende por exemplo, a “inerrância das Escrituras”. Acerca disso e dos outros modelos, poderemos falar num momento mais à frente.


Apesar do livro de Canale ter provocado um certo nó mental no entendimento teológico, por ele, em algum momento defender a ideia de que Deus é “um ser histórico e temporal” (acerca de um contraditório sobre o tema, clique aqui e leia o artigo de Milton Torres) uma vez que há divergências sobre o assunto, tem algo que ele menciona num tratado teológico que é interessante.
Ele diz, “que a eternidade de Deus não é alienada do nosso tempo. O tempo divino, porém, é qualitativamente diferente do nosso tempo, não no sentido de negar o tempo, mas de incorporá-lo e excedê-lo”.
Em resumo, a defesa de Canale, é que o “tempo humano teve um começo (cf. 1Co 2:7), quando o nosso Universo finito e seus habitantes foram criados. O Criador transcende tais limitações em Seu ser e em Sua experiência de tempo e história” (Raoul Dederen, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. CPB. 1. ed., 2011. [ver Fernando Canale, Doutrina de Deus] p. 124,125).

Seguindo tal lógica acerca da Pessoa de Deus, da Sua existência, da Sua revelação e dos atributos divinos, o melhor a ser feito é perscrutar até onde a mente humana alcança, pois, no que se refere ao cognitivo, há uma linha divisora que limita o ser humano de prosseguir rumo ao desconhecido.
Ademais, se dermos uma certa atenção ao entendimento de Revelação defendido por estudiosos como João Calvino, Francis Schaefer e Nancy Piercey, quando utilizam o termo “graça comum” (o mesmo que revelação geral) parece que o entendimento se amplia no que se refere a assimilação do melhor que o homem e mulher usados por Deus podem oferecer à sociedade. Ou seja: o cristianismo tem um compromisso missional para a perspectiva redentiva da sociedade. Piercey, denomina a cosmovisão cristã de “verdade objetiva de Deus.
Por conseguinte, é preciso encarar a vida e ministério de Moisés do ponto de vista da missão. Desde os cuidado no seu nascimento, que ao nascer tem a vida poupada e no decorrer da sua existência, Deus, de certa maneira está interagindo com o ser humano com o propósito de salvá-lo, não somente da escravidão dos homens, mas da escravidão do pecado.

A missão de Moisés, apesar de nada fácil, era bem específica: libertar o povo das garras do diabo. Tanto Faraó, quanto os opressores da atualidade, devem ser confrontados com o poder e autoridade do Céu, pois quem oprime, escraviza e mata pessoas, são agentes satânicos que lutam insistentemente a fim de eliminar a cosmovisão da revelação de Deus e inserir a cultura da maldade.
Assim, muito tempo já se passou, desde a libertação do povo no Egito. E o propósito daquela libertação era a de que Deus criaria um reino de sacerdotes que influenciaria os povos. Mas que em algum momento, a Sua Revelação seria muito mais presente, na Pessoa de Jesus Cristo (João 3:16).
Qual tem sido a sua responsabilidade na missão? Você tem entendido o seu chamado? Você tem se disponibilizado à semelhança de Moisés, que mesmo em medos e fracassos, subiu naquele monte, viu a presença de Deus e saiu de lá repleto de poder autoridade do Céu, pois Senhor era com Ele?

Que possamos como igreja, buscarmos a Deus em oração e estarmos dispostos a passarmos tempo de qualidade com Ele e ardemos na chama do Espírito Santo!
Que as nossas ações e projetos, não excluam a Sua presença!
Que não tenhamos vergonha do Ser de Deus, ainda que não O possamos ver e nem explicá-LO.
Em síntese, a Revelação de Deus é algo perene e cada um de nós, se tão somente parar para contemplar as coisas do alto, terá a oportunidade diária de vê-LO através da natureza, dos pequenos milagres, do cuidado com a família, da subsistência ofertada ao ser humano, da presença do Espírito convencendo o “homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8-11); da transformação na vida das pessoas, bem como da graça maravilhosa de Deus revelada em Cristo Jesus (1Pedro 1:13).

Portanto, ao você ler cada porção das Escrituras Sagradas, o faça com reverência, com humildade e sem pressa.
O Deus eterno, que está além do tempo, mas que jamais deixou de Se interagir conosco, ainda que através de pessoas como Moisés, quer também Se interagir na vida de outros para libertá-los da escravidão que o pecado os impõe.
Permita ser usado por Deus! Ao final da história do pecado, não será somente Moisés e tantos outros homens e mulheres bíblicos que serão homenageados pelo Céu, mas você também, que ao compreender a Revelação e o chamado que Ele te fez, você se colocou a serviço da missão do Rei.