Por Célio Barcellos
Gn39 #rpsp
Os pensadores medievais faziam a separação entre desejo e vontade. Na ótica de Hugo de São Vitor, Thomás de Aquino e outros, o desejo tem que ver com a cobiça, com a carne, com o pecado.
Por conseguinte, a vontade tem que ver com a livre escolha de fazer ou não os desejos da carne.
Em outras palavras, para os pensadores medievais, a vontade freia o ser humano de cometer loucuras. Ela dá a opção de não praticar a maldade. É quando pelo poder do Espírito Santo, a pessoa se abstém de praticar o que é ruim.
Não quero entrar na esfera de como os pensadores medievais se martirizavam para conter os desejos. Até porque, o contexto de vida religiosa e o pensamento medieval da época formavam a cosmovisão deles nesse sentido.
A história de José nos mostra algo muito importante: Quando o ser humano considera os princípios e valores do Reino, ele mantém o temor a Deus e assume a postura de mordomo do Senhor. Ou seja: ele assimila a ideia de ser um representante das coisas do Eterno.
Quando José decide fugir do assédio sexual imposto por sua patroa, é porque ele conduz a mordomia com seriedade, e entende que da mesma maneira que não se deve mexer naquilo que pertence a Deus, também não se pode mexer naquilo que pertence ao próximo. E naquela circunstância de assédio, era preferível morrer, do que se deitar com a mulher do patrão.
A escritora Ellen White diz, que a “resposta de José revela o poder do princípio religioso. Ele não trairia a confiança de seu senhor na Terra, e, quaisquer que fossem as consequências, seria fiel ao Senhor no Céu” (Patriarcas e Profetas, 217).
Essa ação de José somente foi possível porque a moralidade aprendida por seus pais ficou bem definida em sua mente e passou a governar as suas ações. Toda pessoa que tem filhos ou anseia tê-los, deveria se importar com duas coisas para formação do caráter dos filhos: O desenvolvimento emocional para o bom convívio com as regras e o lado cognitivo para o real discernimento entre o certo e o errado.
O grande problema da sociedade atual é que a noção de certo e errado tem cada vez mais se nivelado para baixo. O afunilamento da verdade tem gerado conceitos tão variáveis que na soma total das ações, o que resta é apenas uma subjetividade apelidada de relativismo.
Muita gente critica o estilo de vida religioso do período medieval. Contudo, é preciso reconhecer a seriedade daqueles que souberam utilizar o lado emocional e cognitivo para o discernimento entre o certo e o errado.
Concomitante a isso, o hiato existente entre José do Egito e os pensadores do Medievo é separado por milênios.
Porém, essa questão de desejo e vontade associada aos lados emocional e cognitivo, forma o princípio religioso defendido por White que conduze à pratica da fidelidade exercida por José e que por conseguinte pode ser exercida também por nós.
Portanto, que a graça de Deus e o poder do Espírito Santo estejam constantemente à disposição de toda pessoa que se depara com uma tentação e precisa fazer a escolha entre o desejo e a vontade.
Que possamos escolher sempre a vontade do Senhor, pois o desejo humano conduz para a ruína.